Roberto Abraham Scaruffi: SEM JULGAMENTOS

Friday 15 July 2011

SEM JULGAMENTOS


SEM JULGAMENTOS
Havia numa aldeia um velho, muito pobre, que possuía um
lindo cavalo branco.
Numa manhã ele descobriu que o cavalo não estava na cocheira.
Os amigos disseram ao velho:
– Mas que desgraça, seu cavalo foi roubado!
E o velho respondeu:
– Calma, não cheguem a tanto. Simplesmente digam que o
cavalo não está mais na cocheira. O resto é julgamento de vocês.
As pessoas riram do velho.
Quinze dias depois, de repente, o cavalo voltou. Ele havia fugido
para a floresta. E não apenas isso; ele trouxera uma dúzia de
cavalos selvagens consigo.
Novamente as pessoas se reuniram e disseram:
– Velho, você tinha razão. Não era mesmo uma desgraça, e
sim uma benção.
E o velho disse:
– Vocês estão se precipitando novamente. Quem pode dizer se
é uma benção ou não? Apenas digam que o cavalo está de volta.
O velho tinha um único filho que começou a treinar os cavalos
selvagens. Apenas uma semana mais tarde, ele caiu de um dos cavalos
e fraturou as pernas. As pessoas se reuniram e, mais uma vez, se
puseram a julgar:
– E não é que você tinha razão, velho? Foi uma desgraça seu
único filho perder o uso das duas pernas.
E o velho disse:
– Mas vocês estão obcecados por julgamentos, hein? Não se
adiantem tanto. Digam apenas que meu filho fraturou as pernas. Ninguém
sabe ainda se isso é uma desgraça ou uma bênção.
Aconteceu que, depois de algumas semanas, o país entrou em
guerra e todos os jovens da aldeia foram obrigados a se alistar, menos
o filho do velho. E a maioria dos que foram para a guerra, morreram.
Quem é obcecado por julgar, cai sempre na armadilha de basear
seu julgamento em pequenos fragmentos de informação, o que o
levará a conclusões precipitadas. Nunca encerre uma questão de for-

ma definitiva, pois, quando um caminho termina, outro começa,
quando uma porta se fecha, outra se abre. Às vezes enxergamos apenas
a desgraça, e não vemos a benção que ela nos traz.